sábado, 9 de novembro de 2024

UMA BREVE REFLEXÃO SOBRE A IDENTIFICAÇÃO DA SURDEZ COMO UM CAMINHO DE JUSTIÇA E INCLUSÃO


    É admirável o avanço do processo inclusivo com a regulamentação da lei nº 10.436, a “Lei de Libras” em 22/12/2005. Sua passagem pela história é um marco positivo na luta pela garantia dos direitos humanos de pessoas com surdez em solo brasileiro, mas a inclusão de pessoas surdas em nossa sociedade é por demais complexa e ainda precisa avançar muito em direção à uma educação igualitária e de qualidade, onde sejam contempladas as diferenças com o atendimento das necessidades individuais e significativas de todos.

    Em 2021 o ex-presidente Jair Bolsonaro sancionou a Lei 14.191, que insere a Educação Bilíngue de Surdos na Lei Brasileira de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB - Lei 9.394, de 1996) como uma modalidade de ensino independente — antes incluída como parte da educação especial. Tal sanção da lei é uma evolução significativa para a inclusão da comunidade surda. Vale ressaltar que tal processo inclusivo não pode ser entendido com um “favor”, mas a defesa da dignidade humana.

    A educação bilíngue é uma metodologia de ensino que busca o desenvolvimento de habilidades linguísticas em duas línguas, a língua materna e uma segunda língua, no caso dos surdos, a Libras, mas antes é preciso a sociedade e os nossos representantes políticos compreender que a proposta do bilinguismo para os surdos não é o suprimento de uma necessidade clínica, mas do reconhecimento do aspecto sociocultural e da identidade dos mesmos.

    Já foi comprovado que a Libras quando utilizada como a língua materna, desde a primeira infância, os surdos têm participação em uma educação mais inclusiva e de qualidade, o que torna o seu desenvolvimento cognitivo, social e emocional capaz de tornar um sujeito livre, participativo, construtor e pleno. Os avanços não anulam o abismo a ser superado entre a teoria e a prática cotidiana. Pois vemos como a falta de professores bilíngues qualificados e a necessidade de adaptar os currículos escolares são existentes para atender às necessidades dos surdos.

    Apesar das leis e dos direitos garantidos, é preciso apontar os grandes desafios que urgentemente precisam ser suplantados para que a inclusão aconteça verdadeiramente. A inacessibilidade comunicativa e a falta de políticas públicas de conscientização social que geram atitudes de preconceitos um grande impedimento para a solidificação de uma educação que dê aos excluídos uma vida digna em sociedade, concedendo direitos também à inserção no mercado de trabalho, para que sejam cidadãos capazes, autônomos e atuantes nas suas próprias decisões.

    Endosso listando abaixo alguns pontos, de modo resumido, que sintetiza a atual conjuntura na educação pública brasileira para a comunidade dos surdos que ainda está longe de atender uma Educação Especial e Inclusiva efetivas e de qualidade:

- A falta de interpretes de Libras nas escolas e nos espaços públicos;
- O desconhecimento das libras;
- A falta de tecnologias assistiva;
- Visão capacitista;
- Impunidade para discriminação e estereótipos;
- Falta de conscientização;
- A ausência de participação dos surdos em espaços públicos de decisão.

    Um relato baseado em fatos reais que comprova a distância do cumprimento das leis para o atendimento efetivo da comunidade surda é a do aluno Rafael (usarei nome fictício para preservar a sua identidade). Presente em uma escola privada aqui no Rio de Janeiro, desde a educação infantil e atualmente no 7º ano dos anos finais, a escola sabe que ele, como aluno, ainda não domina completamente a Libras, mas acha que apenas contratar uma intérprete já resolve a questão da inclusão. No entanto, isso não é o suficiente. Um estudante surdo em um ambiente escolar onde todos os colegas e funcionários são ouvintes pode se sentir isolado se a escola não tomar medidas ativas para promovê-lo. É o caso do Gabriel, que estuda na escola há anos, mas até hoje não houve a iniciativa de oferecer aulas de Libras para todas as turmas e funcionários, o que é fundamental para uma verdadeira inclusão.

    A comunidade surda tem lutado para conquistar mais espaços e visibilidade, promovendo a importância da Libras como língua oficial e lutando por políticas de acessibilidade. o problema é que essa língua demorou muito pra ser oficializada e isso acabou atrasando nos dias atais. Não pode nos faltar coragem e rebeldia para superar os preconceitos. A Comunidade surda necessita do cumprimento de ações afirmativas com urgência, por isso, deve ser veloz investir na formação de profissionais em Libras e conscientizar a sociedade a busca dos direitos plenos de acessibilidade e políticas públicas efetivas. Sobretudo, muita empatia para buscar um mundo mais justo e inclusivo para todos.



Fontes:





quinta-feira, 31 de outubro de 2024

Análise semiótica da canção História de uma gata de Chico Buarque

 

    A canção História de uma gata faz parte do musical Os Saltimbancos, com letras de Sergio Bardotti e música de Luís Enríquez Bacalov, com versão em português de Chico Buarque, estreada aqui no Brasil em 1977, em meio a um violento regime de ditadura militar. Tendo em vista, o contexto político e sociocultural brasileiro, o cântico é a tentativa de uma discussão necessária e urgente de temas filosóficos, políticos e culturais.

    A letra apresenta uma crítica profunda da natureza humana, porém com bastante leveza - e até mesmo por causa da proibição da liberdade artística, em vista da resistência e da libertação de um poder opressor em todas as instituições sociais em um país com um ideologia que tentava justificar as censuras, injustiças e violências, como também, com um força motriz de conscientização coletiva na aspiração de produzir a autodescoberta da liberdade individual através da reflexão que rompe com o “conforto” do autoritarismo e frutifica a autoconstrução da identidade com a dinâmica da tentativa da autorrealização.

    Logo de início, é evidente perceber presente na letra o conceito filosófico existencialista – uma corrente europeia do final sec. XIX que ganha notoriedade no sec. XX, onde visa analisar o ser humano a partir de suas experiências subjetivas na busca de concretizar a sua autonomia pessoal, alinhada a abordagem com os problemas de uma sociedade em transformação. A metáfora de cunho existencialista, mostra a liberdade como uma característica fundamental da existência humana - , mas também como uma fonte de angústia, pois implica em responsabilidade pelas nossas escolhas.

    No século XX, em especial, quando a tentativa de se discutir os grandes temas políticos com a arte voltada para a resistência às grandes ideias fascistas e nazistas, o resultado tinha que ser obras com figuras de linguagens que preconizassem a luta, mas de forma inteligente. Os Saltimbancos é a prova disso. Chico Buarque conseguiu, tanto no disco que adaptou de Sergio Bardotti, quanto na peça que veio a partir disso, atingir o ponto certo para que a linguagem lúdica e sensível, fundamental ao diálogo, pudesse ser usada para introduzir questões profundas. Em todas as partes que intermeiam, é possível encontrar essas ideias, que em muitos momentos ecoam a tradição marxista, dando à história um subtexto anticapitalista e revolucionário, ainda que o próprio Chico hoje não siga todas as suas lições.

    A seguir com a minha análise, destaco alguns elementos multisemióticos importantes para compreensão da canção:

Linguagem Verbal:

Metáforas: "filé-mignon", "detefon" e "almofada";

Rimas: trato – gato; lua – rua;

Música:

Melodia: A melodia melancólica e nostálgica reflete a dualidade da gata, que sente falta da vida confortável ao mesmo tempo em que se liberta.
Harmonia: A harmonia simples e direta contribui para a universalidade da mensagem.

Contexto Histórico e Social:

Ditadura Militar: A canção foi composta durante a ditadura militar no Brasil, e a história da gata pode ser vista como uma alegoria à busca por liberdade em um contexto opressor.

Censura: A canção, embora aparentemente infantil, carrega uma mensagem subversiva que poderia ser facilmente interpretada como uma crítica ao regime.

    Enfim, "A História de uma Gata" é uma canção rica em significados, que transcende a história de um animal e se torna uma metáfora para a busca por identidade e liberdade.

    Deixo duas canções, também dos Saltibancos que são abundantes em análise multisemiótica. 

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    A análise semiótica da música "Bicharia" revela uma obra rica em significados, que transcende o universo infantil e se conecta com questões universais como a vida, a morte, a liberdade, a justiça e a diversidade. A linguagem poética e as imagens criadas por Chico Buarque convidam o ouvinte a uma reflexão profunda sobre a condição humana e a sua relação com o mundo natural.

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    "Um Dia de Cão” é uma reflexão sobre a alienação, a rotina opressiva e a falta de autonomia que muitos enfrentam em suas vidas. Chico Buarque, com sua habilidade poética, nos convida a pensar sobre essas questões sociais por meio da figura do cachorro

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    Um relato de Chico Buarque sobre os 40 anos de OS SALTIMBANCOS.

 

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https://www.esquerdadiario.com.br/Os-Saltimbancos-e-como-falar-da-revolucao-para-criancas

https://www.chicobuarque.com.br/obra/cancao/173

sábado, 17 de fevereiro de 2024

A Grandeza do Ser Humano na perspectiva da Espiritualidade Cristã

As convicções são inimigas mais perigosas da verdade do que as mentirasNietzsche





    Nenhuma pessoa é "eleita" pelo Criador Divino pelo simples fato de, ter provado o sofrimento, depois, alcançado a sua libertação, como se isso fizesse dela alguém com privilégios. Pelo contrário, a pessoa vitoriosa deve consisederar-se disponíel para o serviço a humanidade, a começar pelo seu próximo. Também não é a nossa situação de "pecadores" e "depravados" por natureza, mas criaturas do Deus-Amor. Desde sempre somos procurados pelo Eterno como condição de filhos - Seu Amor é para todos. É Universal! 

    A nossa existência é confirmada na Gratuidade da vida oferecida e redimida por Deus em Jesus. Não é a libertação do "pecado" que confirmará a Missão Salvadora-amorosa, mas as Obras da Criação que se insinuam em nosso ítntimo e confirma de modo especial o quanto somos partícipes da filiação divina. 

    A espiritualidade jesuína ecoa uma nova pedagogia e uma crença alicerçada na subjetividade e na pontualidade do mistério com o revelado. É a união do Céu e da Terra. Tal grandioso princípio é firmado na humanidade do Mestre Jesus- modelo e inspiração. Eis o Homem! Filho de Deus! Irmão Universal! 

    Na sua beleza e grandeza humanas encontramos a nossa pertença a transcedência do nosso ser limitante. É a certeza da descoberta que no Logos Divino somos pessoas com habilidades imanentes a serem definidas pela busca incansável do autoconhecimento e da empatia. 


Somos potencialmente enormes em corpos limitantes! 


Professor Mário Vinícius 

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2024

Barganha ou recompensa, espiritualidade da graça no livro de Rute.

 O Senhor lhe retribua o que você tem feito! Rute 2:12



A história do livro de Rute, a moabita, com apenas 4 capítulos no Antigo Testamento e após centenas de histórias trágicas da fromação do Povo de Israel é um alento, mas uma certeza que o Deus de Israel é um Deus Gracioso. A história de uma mulher estrangeira inserida no povo de Israel por uma decisão de amor e que encontra o favor de Deus em sua aflição, de modo convergente e casual, é recheado de um dinamismo de amor gratuito. A leitura atenta do livro é rica de arte, poesia, beleza humana e uma fé carregada de empatia. 

O livro apresenta uma teologia com passos muito significativos e relevantes para a realidade com a qual nos deparamos na pós-modernidade, cheia de desafios urgentes. Trata, com maestria, da relação sempre desafiadora entre espiritualidade - livre de amarras religiosas - e empatia como fundamento de uma ética humana, e da possibilidade de se experimentar Deus por intermédio dos caminhos entre espiritualidade, mística e bondade. É da educação para a paz inspirada em um dinamismo da graça e da dimensão espiritual.


Para a tradição cristã bíblica a salvação não vem pelas obras, mas pela graça. Logo entende-se por aí que, o mais necessário é viver a prática da espiritualidade da gratuidade em todas as áreas da vida, incluindo sobretudo nas coisas mais simples da vida. O Eterno é Graça. Uma das dicas é fazer o seu melhor e não apenas o possível. Isso é autorresponsabilidade, autoconhecimento e uma fonte geradora de satisfação pessoal e social. 


O amor a Deus e ao próximo só são eficazes se forem desinteressados!


Professor Mário Vinícius 


sábado, 10 de fevereiro de 2024

A De-cadência Humana

"O ser humano tem a tendência de de-cair no mundo em que é e está, e de interpretar a si mesmo pela luz que dele emana." Heidegger, Ser e tempo.



Não sou e nem quero ser o que você quer que eu me torne. Sou livre de protocolos sociais hipócritas! Mudo quantas vezes for necessário. Ascendendo! A todos peço desculpas pelos possíveis aborrecimentos. Procuro sempre - sem muito êxito às vezes - a reforma interior! Pois, quando sou fraco, é que sou forte. 2Cor 12:10

Já estamos em fevereiro de 2024! É tempo de avançar! Muitos projetos e propósitos foram delimitados. Estamos perseguindo-os? Eu estou tentando! O mundo em que SOBREvivemos cada dia mais está esquisito. Entulhado de sons, ruídos e simulacros.

Se lhe perguntassem como é o ritmo de seu pensamento, o que você responderia? Você pensa rápido? É mais lento no encadeamento de ideias? Ou depende somente dos conteúdos pensados a partir de fora e dos contextos criados, ou seja, prontos e acabados ou da sua livre atividade pensante inacabada?

A decadência é compreendida como uma total ruptura entre o ser e a aparência, entre o ser e o pensar. O mundo humano está dividido entre a era da in-formação a serviço das tensões totalitárias.Talvez tenhamos nos tornado uma espécie criada pela mal-dita Inteligência Aritificial, manipulados por interesses de super potências mundiais.

É tempo de empenho. Precisamos começar pelo trabalho incansável em distinguir o verdadeiro do falso. Carecemos acalmar a cadência do pensamento ruidoso para perceber a irrealidade do real.


A Espirtualidade em nós é especialista em fortalecer a nossa fraqueza e nos reeguer das nossas inevitáveis quedas. Na Transcedéncia econtramos a luz na escuridão e no Logos Divino a comunicação acertiva para aplicarmos em nossa trajetória humana. A Mística pode ser um caminho disponível para rompermos com a era das aparências e descobrirmos a beleza do mistério!



A de-cadência humana no meu ponto de vista é definida pela mecanização mental e corporal do ser humano.




Professor Mário Vinícius





Ah...! O Tempo!

Um conto do livro  Sonhos de Einstein , obra de ficção de Alan Lightman que explora poeticamente diferentes perspectivas sobre o tempo.   3 ...