sábado, 23 de novembro de 2024

Combater a desinformação é uma tarefa premente dos ambientes de escolarização. Nesse sentido, perguntamos: como é possível desenvolver o letramento midiático por meio da prática da análise multissemiótica?

 


A sociedade pós-moderna que estamos inseridos é caracterizada por rápidas mudanças sociais, culturais, artísticas, filosóficas, científicas e estéticas que surgiram após a Segunda Guerra Mundial. Com o fenômeno da globalização temos a possibilidade de acompanhar o mundo nas diversas mídias de qualquer lugar por meio de redes de informação e comunicação, todavia, tal sociedade contemporânea é marcada, por diversos fatores sociais que a tornam complexa. Entre eles destaco, a mistura do real e do imaginário, ou seja, a negação do objetivo em prol do emocionalismo do indivíduo. O avanço e a democratização das tecnologias contribuíram para a ampliação do processo comunicativo, e consequente, a difusão de diferentes tipos de linguagens multimodais, entre outras. Portanto, é essencial e urgente desenvolver as práticas do letramento midiático por meio da análise multissemiótica, de acordo aos gêneros digitais no contexto escolar.

O conceito de pós-verdade na sociedade contemporânea é um neologismo que reproduz a situação na qual, na hora de criar e modelar a opinião pública, os fatos objetivos têm menos influência que os apelos às emoções e às crenças pessoais. Isto é, os indivíduos passam a lerem as notícias falsas com pressa ou com a crença de que quanto mais informação irá daiquiri o conhecimento, a acreditarem e sem buscar a origem das notícias espalham como verdades, e assim, as Fakes News são apregoadas. Para Grijelmo (2017), a era da pós-verdade é preocupante, pois se tornou a era do engano e da mentira, que se propagam com muito mais facilidade, em meio a pessoas que desconfiam de tudo, mas ao mesmo tempo acreditam em qualquer coisa.

A Escola como instituição social que prepara o cidadão para a realidade da vida  tem o dever de promover o combate as desinformações por meio de uma educação que contrarie interesses de poderes manipulativos. Porém, a Escola atual, ainda   mantém   o conceito   de   letramento   tradicional, o   letramento   da   década   de   80/90, quando   a população ainda não tinha acesso à informação a todo instante.  Por isso, precisamos enfrentar   o   desafio   posto   a   educadores   e linguistas: letrar uma nova geração de aprendizes, crianças e adolescentes que estão   crescendo   e   vivenciando   os   avanços   das   tecnologias   da   informação   e comunicação (XAVIER, 2005).

Todos os profissionais da educação, especialmente os docentes em sala de aula, carecem com o compromisso pedagógico elaborar atividades de ensino-aprendizagem de análises multissemióticas e interdisciplinares que estejam inseridas nas demandas desafiadoras da pós-modernidade, no combate às falsas notícias, onde os discentes já são protagonistas da corpo social que vive. Os smartphones, tablets, notebooks, entre ouros aparelhos, são meios tecnológicos que fazem parte do cotidiano de todos, ainda que em meio às desigualdades sociais, assim como a internet é hoje, a principal ferramenta de trabalho, estudo, informação, comunicação e entretenimento da população, para esta finalidade, a ideia não é nova: [é preciso] aproximar os meios de comunicação da educação escolar, é prática tão antiga quanto as próprias mídias (HALLORAN; JONES, 1986).

O desenvolvimento da análise multissemiótica de textos multimodais nas escolas é urgente, porém o trabalho a ser elaborado tem que ser numa perspectiva de atender alguns requisitos importantes: conteúdos, objetivos, faixa etária do público-alvo, problema/resolução, contexto, ambientes, recursos e estratégias de avaliação. Dado isso, a análise, a experimentação e aplicação de conhecimentos interativos e conceituais irão desenvolver o senso crítico, cuja capacidade norteará crianças e jovens construírem relações saudáveis e analisar informações com consciência em busca da verdade dos fatos.

A sociedade na qual  estamos inseridos  se constitui como um grande ambiente multimodal,  no qual  palavras,  imagens, sons, cores, músicas, aromas, movimentos variados, texturas, formas diversas se combinam e estruturam um   grande mosaico multissemiótico
(DIONISIO   eVASCONCELOS, 2013, p. 19). 

No auge da pandemia do coronavírus entre tantas Fakes News espalhadas, muitas desenvolvidas para atender interesses políticos, uma muito disseminada foi que beber água fervida com alho serviria como tratamento preventivo para o coronavírus, desmentida no site Eu Fiscalizo, pela pneumologista e pesquisadora Margareth Dalcolmo, da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, ENSP.

A partir dessa notícia negacionista e falsa, que levou muitos apressados e incultos a fazerem uso dessa prática ineficaz para o combate ao vírus da covid e alcançarem resultados catastróficos, desenvolvi na disciplina de filosofia no Ensino Médio um projeto avaliativo, com os alunos, de combate à desinformação na busca de analisar com senso crítico para obter informações verdadeiras e seguras. Deste modo, a busca para compreender o fenômeno das fake news e suas relações com interesses individuais ou de grupos mobilizados para a manipulação de opinião pública.

O trabalho chamado Quero a verdade, teve 3 objetivos e foi desenvolvido com recursos multimodais em um bimestre. São estes os objetivos.  

·         Analisar notícias falsas e perceber os impactos sociais e políticos causados na pandemia pela disseminação da mentira;

·         Desenvolver a postura crítica e combativa à prática de produção e disseminação de fake News, como resistência do desenvolvimento da ciência;

·         Engajar-se em campanhas de conscientização para o combate às fake News, elaborando cartazes digitais com recursos textuais multimodais.

Portanto, a Escola não pode intencionalmente ou não se omitir no esclarecimento de notícias falsas, como se ela fosse um espaço “privilegiado” fora da sociedade, muito menos corroborar com movimentos, sejam eles quais forem, que levem ao desconhecimento muitas vezes com o objetivo de atender aos ideais capitalistas e reacionários. A Escola precisa adotar a pedagogia de multiletramentos com conteúdos midiáticos para ser um lugar de debate e de construção de conhecimentos, assim os estudantes   se tornem cidadãos críticos, conscientes e não acríticos que por falta de orientação se deixem levar por notícias falsas. Para tal propósito é indispensável entender que "O novo paradigma [multiletramentos na escola] não pretende agir como um escudo para proteger os jovens da mídia e conduzi-los para coisas melhores, mas sim torná-los habilitados a tomar decisões mais informadas, para seu próprio interesse." (BUCKINGHAM, 2003, p. 13).

 

 

FONTES:

https://fpabramo.org.br/2022/11/29/a-era-da-pos-verdade/

https://www.scielo.br/j/er/a/6McM9C95x79FDYK3WNpKrZd/?lang=pt

ROJO, R. H. R.; MOURA, E. Multiletramentos na escola. São Paulo: Parábola Editorial, 2012.

https://www.scielo.br/j/rbedu/a/9Bd6mdTWFWQmWYPHZy6hGGg/

https://informe.ensp.fiocruz.br/noticias/48548

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