A sociedade pós-moderna que
estamos inseridos é caracterizada por rápidas mudanças sociais, culturais,
artísticas, filosóficas, científicas e estéticas que surgiram após a Segunda
Guerra Mundial. Com o fenômeno da globalização temos a possibilidade de
acompanhar o mundo nas diversas mídias de qualquer lugar por meio de redes de
informação e comunicação, todavia, tal sociedade contemporânea é marcada, por
diversos fatores sociais que a tornam complexa. Entre eles destaco, a mistura
do real e do imaginário, ou seja, a negação do objetivo em prol do emocionalismo
do indivíduo. O avanço e a democratização das tecnologias contribuíram para a
ampliação do processo comunicativo, e consequente, a difusão de diferentes
tipos de linguagens multimodais, entre outras. Portanto, é essencial e urgente desenvolver
as práticas do letramento midiático por meio da análise multissemiótica, de
acordo aos gêneros digitais no contexto escolar.
O conceito de pós-verdade na
sociedade contemporânea é um neologismo que reproduz a situação na qual, na
hora de criar e modelar a opinião pública, os fatos objetivos têm menos
influência que os apelos às emoções e às crenças pessoais. Isto é, os
indivíduos passam a lerem as notícias falsas com pressa ou com a crença de que
quanto mais informação irá daiquiri o conhecimento, a acreditarem e sem buscar
a origem das notícias espalham como verdades, e assim, as Fakes News são
apregoadas. Para Grijelmo (2017), a era da pós-verdade é preocupante, pois se
tornou a era do engano e da mentira, que se propagam com muito mais facilidade,
em meio a pessoas que desconfiam de tudo, mas ao mesmo tempo acreditam em
qualquer coisa.
A Escola como instituição social que prepara o cidadão para a realidade da vida tem o dever de promover o combate as desinformações por meio de uma educação que contrarie interesses de poderes manipulativos. Porém, a Escola atual, ainda mantém o conceito de letramento tradicional, o letramento da década de 80/90, quando a população ainda não tinha acesso à informação a todo instante. Por isso, precisamos enfrentar o desafio posto a educadores e linguistas: letrar uma nova geração de aprendizes, crianças e adolescentes que estão crescendo e vivenciando os avanços das tecnologias da informação e comunicação (XAVIER, 2005).
Todos os profissionais da
educação, especialmente os docentes em sala de aula, carecem com o compromisso
pedagógico elaborar atividades de ensino-aprendizagem de análises
multissemióticas e interdisciplinares que estejam inseridas nas demandas desafiadoras
da pós-modernidade, no combate às falsas notícias, onde os discentes já são
protagonistas da corpo social que vive. Os smartphones, tablets, notebooks,
entre ouros aparelhos, são meios tecnológicos que fazem parte do cotidiano de
todos, ainda que em meio às desigualdades sociais, assim como a internet é
hoje, a principal ferramenta de trabalho, estudo, informação, comunicação e
entretenimento da população, para esta finalidade, a ideia não é nova: [é
preciso] aproximar os meios de comunicação da educação escolar, é prática tão
antiga quanto as próprias mídias (HALLORAN; JONES, 1986).
O desenvolvimento da análise
multissemiótica de textos multimodais nas escolas é urgente, porém o trabalho a
ser elaborado tem que ser numa perspectiva de atender alguns requisitos
importantes: conteúdos, objetivos, faixa etária do público-alvo, problema/resolução,
contexto, ambientes, recursos e estratégias de avaliação. Dado isso, a análise,
a experimentação e aplicação de conhecimentos interativos e conceituais irão
desenvolver o senso crítico, cuja capacidade norteará crianças e jovens
construírem relações saudáveis e analisar informações com consciência em busca
da verdade dos fatos.
No auge da pandemia do coronavírus entre tantas Fakes News espalhadas, muitas desenvolvidas para atender interesses políticos, uma muito disseminada foi que beber água fervida com alho serviria como tratamento preventivo para o coronavírus, desmentida no site Eu Fiscalizo, pela pneumologista e pesquisadora Margareth Dalcolmo, da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, ENSP.
A partir dessa notícia
negacionista e falsa, que levou muitos apressados e incultos a fazerem uso
dessa prática ineficaz para o combate ao vírus da covid e alcançarem resultados
catastróficos, desenvolvi na disciplina de filosofia no Ensino Médio um projeto
avaliativo, com os alunos, de combate à desinformação na busca de analisar com
senso crítico para obter informações verdadeiras e seguras. Deste modo, a busca
para compreender o fenômeno das fake news e suas relações com interesses
individuais ou de grupos mobilizados para a manipulação de opinião pública.
O trabalho chamado Quero a
verdade, teve 3 objetivos e foi desenvolvido com recursos multimodais em um
bimestre. São estes os objetivos.
·
Analisar
notícias falsas e perceber os impactos sociais e políticos causados na pandemia
pela disseminação da mentira;
·
Desenvolver
a postura crítica e combativa à prática de produção e disseminação de fake News,
como resistência do desenvolvimento da ciência;
· Engajar-se em campanhas de conscientização para o combate às fake News, elaborando cartazes digitais com recursos textuais multimodais.
Portanto, a Escola não pode
intencionalmente ou não se omitir no esclarecimento de notícias falsas, como se
ela fosse um espaço “privilegiado” fora da sociedade, muito menos corroborar
com movimentos, sejam eles quais forem, que levem ao desconhecimento muitas
vezes com o objetivo de atender aos ideais capitalistas e reacionários. A
Escola precisa adotar a pedagogia de multiletramentos com conteúdos midiáticos
para ser um lugar de debate e de construção de conhecimentos, assim os estudantes se tornem cidadãos críticos, conscientes e
não acríticos que por falta de orientação se deixem levar por notícias falsas.
Para tal propósito é indispensável entender que "O novo paradigma
[multiletramentos na escola] não pretende agir como um escudo para proteger os
jovens da mídia e conduzi-los para coisas melhores, mas sim torná-los
habilitados a tomar decisões mais informadas, para seu próprio interesse."
(BUCKINGHAM, 2003, p. 13).
FONTES:
https://fpabramo.org.br/2022/11/29/a-era-da-pos-verdade/
https://www.scielo.br/j/er/a/6McM9C95x79FDYK3WNpKrZd/?lang=pt
ROJO, R. H. R.; MOURA, E. Multiletramentos
na escola. São Paulo: Parábola Editorial, 2012.
https://www.scielo.br/j/rbedu/a/9Bd6mdTWFWQmWYPHZy6hGGg/
https://informe.ensp.fiocruz.br/noticias/48548
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