terça-feira, 11 de março de 2025

Ah...! O Tempo!

Um conto do livro Sonhos de Einstein, obra de ficção de Alan Lightman que explora poeticamente diferentes perspectivas sobre o tempo. 



3 DE MAIO DE 1905

Considere um mundo em que a relação entre causa e efeito é irregular. Às vezes a primeira antecede o segundo, às vezes o segundo antecede a primeira. Ou talvez a causa esteja para sempre no passado e o efeito para sempre no futuro, mas passado e futuro estão entrelaçados. A vista do terraço do Bundesterrasse é impressionante: o rio Aare abaixo e os Alpes berneses acima. Um homem está ali em pé neste exato momento esvaziando distraidamente seus bolsos e chorando. Sem razão, seus amigos o abandonaram. Ninguém o procura mais, ninguém sai com ele para jantar ou tomar uma cerveja na taverna, ninguém o convida para ir a sua casa. Por vinte anos foi o amigo ideal para seus amigos, generoso, interessado, de fala mansa, afetuoso. O que pode ter acontecido? Uma semana após este momento no terraço, o mesmo homem começa a comportar-se como um louco furioso, insultando a todos, vestindo roupas fedorentas, tornando-se avarento, não permitindo a ninguém vir ao seu apartamento na Laupenstrasse. Qual foi a causa e qual foi o efeito, o que é futuro e o que é passado? Em Zurique, leis severas foram recentemente aprovadas pelo Conselho Municipal. A venda de revólveres ao público está proibida. Bancos e casas comerciais devem ser fiscalizados. Todos os visitantes, estejam eles chegando a Zurique de barco pelo rio Limmat ou de trem pela linha Selnau, devem ser revistados para controle de contrabando. A polícia militar foi reforçada. Um mês após a blitz, Zurique é assolada pelos piores crimes de sua história. Pessoas são assassinadas à luz do dia na Weinplatz, quadros são furtados da Kunsthaus, bebida alcoólica é consumida nos bancos do grande altar de Münsterhof. Não estão esses atos criminosos fora de lugar no tempo? Ou talvez as novas leis fossem ação e não reação? Uma jovem está sentada perto de uma fonte no Botanischer Garten. Ela vem a este lugar todos os domingos sentir o cheiro das violetas brancas, da rosa moscada, dos alelis cor-de-rosa. Subitamente seu coração dispara, ela enrubesce, anda ansiosamente de um lado para outro, fica feliz sem qualquer razão. Dias mais tarde, ela encontra um jovem e se apaixona. Não estão ligados os dois fatos? Mas que conexão bizarra os une, que distorção do tempo, que lógica invertida?

Neste mundo sem causas, os cientistas estão perdidos. Suas predições se tornam pósdições. Suas equações se tornam justificativas, sua lógica, ilógica. Cientistas vão à loucura e murmuram como jogadores que não conseguem parar de apostar. Cientistas são bufões, não porque são racionais, mas porque o cosmos é irracional. Ou talvez não seja porque o cosmos é irracional, mas porque eles são racionais. Quem pode dizer, em um mundo sem causas?

Neste mundo, os artistas fazem a festa. Imprevisibilidade é a alma de seus quadros, sua música, suas novelas. Eles se deliciam com eventos não previstos, acontecimentos sem explicação retrospectiva. A maior parte das pessoas aprendeu como viver no momento. O argumento é o de que, se o passado tem efeitos incertos sobre o futuro, não há necessidade de refletir sobre o passado. E, se o presente tem pouco efeito sobre o futuro, as conseqüências das ações no presente não precisam ser levadas em consideração. Na verdade, cada ato é uma ilha no tempo, que deve ser julgada por si. Famílias confortam um tio que está à morte não por causa de uma possível herança, mas porque é amado naquele momento. Trabalhadores são contratados não por causa dos seus currículos mas por causa do seu bom senso nas entrevistas. Funcionários espicaçados por seus chefes rebelam-se a cada insulto sem temer por seu futuro. É um mundo de impulsos. É um mundo de sinceridade. É um mundo em que cada palavra dita refere-se apenas ao momento em que é dita, cada olhar tem apenas um significado, cada toque não tem passado nem futuro, cada beijo é um beijo de imediação.

LIGHTMAN, Alan. Sonhos de Einstein. São Paulo: Companhia de Bolso, 2014.



 

segunda-feira, 25 de novembro de 2024

Uma abordagem sobre linguística, gramática e os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN


         A gramática é um registro, geralmente metódico e dinâmico, do funcionamento de uma determinada língua que segundo Evanildo Bechara, é um conjunto de regras que indicam o funcionamento mais correto de uma língua. É um conhecimento linguístico internalizado que usamos para compreender o que os outros dizem e para comunicarmos as nossas vontades. A noção de uma gramática sem a língua, esta que é um conjunto organizado de elementos (sons e gestos) que possibilitam a comunicação eficiente, não existe. Toda língua possui seu próprio sistema de regras, cada uma com suas particularidades. É a gramática que estuda as regras e convenções que regem o uso de uma língua, tanto na fala quanto na escrita, e dará base para a estrutura e manutenção da própria língua. Não pode existir uma gramática única e universal, dentro da perspectiva da diversidade, pois a linguagem como um processo natural pertencente a todo ser humano, e que dá forma aos nossos pensamentos e sentimentos, expressões e comunicações, é a única mediadora de nossas relações com o outro e conosco mesmo, tornando assim, a língua como um produto social da linguagem. 

    

    O conceito de gramática normativa ou tradicional busca determinar o uso correto da língua em oposição ao popular. Segundo Carlos Franchi, é o conjunto sistemático de normas para bem falar e escrever, estabelecidas pelos especialistas. É importante para a sala de aula para possibilitar o/a discente obter conhecimento da norma culta da língua vigente em diversas avaliações formais [provas, concursos, ENEM], sendo também, imprescindível para a boa leitura e compreensão de diversos textos. A gramática gerativa é uma teoria linguística que busca afirmar que a linguagem humana é gerada na mente do falante, ou seja, é genética. Para Noam Chomsky, a gramática gerativa se preocupa com a forma e o significado das expressões de uma língua, tendo os estímulos e recursos exteriores como ativadores da linguagem, que é inata ao ser humano. No âmbito escolar esta teoria ajudará o/a discente ao desenvolvimento e compreensão mais profundos da linguagem, harmonizando a relação entre o ensino normativo e contextualizado. A Gramática Sistêmico-Funcional busca fundamentar-se em um sistema semiótico, levando em conta o contexto social e cultural do falante. Ela se baseia na ideia de que a linguagem é processada por meio de três metafunções: ideacional, interpessoal e textual. O objetivo da GSF quer explicar e dar o significado da linguagem.[dentro da pluralidade de linguagem, e para isso, prioriza o eixo paradigmático (sistema) sobre o sintagmático (estrutura). Utilizar a teoria da GSF ajudará o docente em sala de aula promover um ensino contextualizado com a realidade dos seus alunos, levando a desenvolver habilidades de interpretação textos multissemióticos e multimodais.


    As gramáticas gerativa e sistêmico-funcional oferecem ferramentas pedagógicas incríveis para o planejamento de análise e reflexão sobre a língua. Essas ferramentas quando aplicadas de modo consciente, é capaz de conduzir o/a aluno à dimensões ainda maiores da linguagem, fazendo com que o aprendiz – e também quem ensina, conheçam as variações linguísticas: sociais, políticos, econômicos e culturais. As atividades fundamentadas nas gramáticas gerativa e sistêmico-funcional promovem inspirações linguísticas, fornecendo meios capazes dos estudantes desenvolverem a comunicação eficaz e altamente crítica. A Gramática gerativa é transformacional, pois defende que as regras vão se transformando sempre em regras gerais, e também afirma que, o sistema linguístico é capaz de gerar um número infinito de sentenças a partir de um número finito de elementos linguísticos. Um exemplo prático em sala de aula é uma revisão de textos, destacando visualmente o uso de letras maiúsculas, minúsculas e pontuações. A Gramática sistêmico-funcional foca na abordagem construtivista e funcionalista, lançando a proposta de uma análise gramatical situando a língua em seu contexto social e cultural. Conhecer e efetivar na prática pedagógica cotidiana essas abordagens teóricas da língua em sala de aula tornam a leitura e a escrita à uma compreensão mais rica e multifacetada da linguagem, ou seja, sujeitos comunicadores mais eficazes e reflexivos. Um exemplo de atividades é a utilização de atividades lúdicas em vista da desconstrução das ambiguidades e arbitrariedades, que muitas vezes levam à falta de uma compreensão do significado original, e assim, gerando todo tipo de preconceitos. 



 Fontes: • Conteúdo didático- Linguística contemporânea • https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/21/8/as-ideias-do-linguistacarlos-franchi-linguagem-gramatica-e-criatividade • https://blogeditoradaunicamp.com/2022/01/13/os-gramaticos-latinos-e-agramatica-como-conhecem

sábado, 23 de novembro de 2024

Onde a lei não existe, ao que parece, a razão do mais forte prevalece.

Ao fraco, só resta a esperança de justiça.

O Lobo e o Cordeiro

Estava um Lobo a beber água num riacho, quando avistou um Cordeiro que também bebia da mesma água, um pouco mais abaixo. Mal viu o Cordeiro, o Lobo foi ter com ele de má cara, arreganhando os dentes.

— Como tens a ousadia de turvar a água onde eu estou a beber?

Respondeu o cordeiro humildemente:

— Eu estou a beber mais abaixo, por isso não te posso turvar a água.

— Ainda respondes, insolente! — retorquiu o lobo cada vez mais colérico. — Já há seis meses o teu pai me fez o mesmo.

Respondeu o Cordeiro:

— Nesse tempo, Senhor, ainda eu não era nascido, não tenho culpa.

— Sim, tens — replicou o Lobo —, que estragaste todo o pasto do meu campo.

— Mas isso não pode ser — disse o Cordeiro —, porque ainda não tenho dentes.

O Lobo, sem mais uma palavra, saltou sobre ele e logo o degolou e comeu.

La Fontaine, traduzida pelo poeta Ferreira Gullar (La Fontaine,1999:12-14)


Claramente se mostra nesta Fábula que nenhuma justiça nem razões parecem valer ao inocente para o livrarem das mãos de um inimigo poderoso e desalmado. Os lobos estão por aí... precisamos estar atentos e combatê-los com coragem e resistência. A Festa da Ressurreição haverá! 

Combater a desinformação é uma tarefa premente dos ambientes de escolarização. Nesse sentido, perguntamos: como é possível desenvolver o letramento midiático por meio da prática da análise multissemiótica?

 


A sociedade pós-moderna que estamos inseridos é caracterizada por rápidas mudanças sociais, culturais, artísticas, filosóficas, científicas e estéticas que surgiram após a Segunda Guerra Mundial. Com o fenômeno da globalização temos a possibilidade de acompanhar o mundo nas diversas mídias de qualquer lugar por meio de redes de informação e comunicação, todavia, tal sociedade contemporânea é marcada, por diversos fatores sociais que a tornam complexa. Entre eles destaco, a mistura do real e do imaginário, ou seja, a negação do objetivo em prol do emocionalismo do indivíduo. O avanço e a democratização das tecnologias contribuíram para a ampliação do processo comunicativo, e consequente, a difusão de diferentes tipos de linguagens multimodais, entre outras. Portanto, é essencial e urgente desenvolver as práticas do letramento midiático por meio da análise multissemiótica, de acordo aos gêneros digitais no contexto escolar.

O conceito de pós-verdade na sociedade contemporânea é um neologismo que reproduz a situação na qual, na hora de criar e modelar a opinião pública, os fatos objetivos têm menos influência que os apelos às emoções e às crenças pessoais. Isto é, os indivíduos passam a lerem as notícias falsas com pressa ou com a crença de que quanto mais informação irá daiquiri o conhecimento, a acreditarem e sem buscar a origem das notícias espalham como verdades, e assim, as Fakes News são apregoadas. Para Grijelmo (2017), a era da pós-verdade é preocupante, pois se tornou a era do engano e da mentira, que se propagam com muito mais facilidade, em meio a pessoas que desconfiam de tudo, mas ao mesmo tempo acreditam em qualquer coisa.

A Escola como instituição social que prepara o cidadão para a realidade da vida  tem o dever de promover o combate as desinformações por meio de uma educação que contrarie interesses de poderes manipulativos. Porém, a Escola atual, ainda   mantém   o conceito   de   letramento   tradicional, o   letramento   da   década   de   80/90, quando   a população ainda não tinha acesso à informação a todo instante.  Por isso, precisamos enfrentar   o   desafio   posto   a   educadores   e linguistas: letrar uma nova geração de aprendizes, crianças e adolescentes que estão   crescendo   e   vivenciando   os   avanços   das   tecnologias   da   informação   e comunicação (XAVIER, 2005).

Todos os profissionais da educação, especialmente os docentes em sala de aula, carecem com o compromisso pedagógico elaborar atividades de ensino-aprendizagem de análises multissemióticas e interdisciplinares que estejam inseridas nas demandas desafiadoras da pós-modernidade, no combate às falsas notícias, onde os discentes já são protagonistas da corpo social que vive. Os smartphones, tablets, notebooks, entre ouros aparelhos, são meios tecnológicos que fazem parte do cotidiano de todos, ainda que em meio às desigualdades sociais, assim como a internet é hoje, a principal ferramenta de trabalho, estudo, informação, comunicação e entretenimento da população, para esta finalidade, a ideia não é nova: [é preciso] aproximar os meios de comunicação da educação escolar, é prática tão antiga quanto as próprias mídias (HALLORAN; JONES, 1986).

O desenvolvimento da análise multissemiótica de textos multimodais nas escolas é urgente, porém o trabalho a ser elaborado tem que ser numa perspectiva de atender alguns requisitos importantes: conteúdos, objetivos, faixa etária do público-alvo, problema/resolução, contexto, ambientes, recursos e estratégias de avaliação. Dado isso, a análise, a experimentação e aplicação de conhecimentos interativos e conceituais irão desenvolver o senso crítico, cuja capacidade norteará crianças e jovens construírem relações saudáveis e analisar informações com consciência em busca da verdade dos fatos.

A sociedade na qual  estamos inseridos  se constitui como um grande ambiente multimodal,  no qual  palavras,  imagens, sons, cores, músicas, aromas, movimentos variados, texturas, formas diversas se combinam e estruturam um   grande mosaico multissemiótico
(DIONISIO   eVASCONCELOS, 2013, p. 19). 

No auge da pandemia do coronavírus entre tantas Fakes News espalhadas, muitas desenvolvidas para atender interesses políticos, uma muito disseminada foi que beber água fervida com alho serviria como tratamento preventivo para o coronavírus, desmentida no site Eu Fiscalizo, pela pneumologista e pesquisadora Margareth Dalcolmo, da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, ENSP.

A partir dessa notícia negacionista e falsa, que levou muitos apressados e incultos a fazerem uso dessa prática ineficaz para o combate ao vírus da covid e alcançarem resultados catastróficos, desenvolvi na disciplina de filosofia no Ensino Médio um projeto avaliativo, com os alunos, de combate à desinformação na busca de analisar com senso crítico para obter informações verdadeiras e seguras. Deste modo, a busca para compreender o fenômeno das fake news e suas relações com interesses individuais ou de grupos mobilizados para a manipulação de opinião pública.

O trabalho chamado Quero a verdade, teve 3 objetivos e foi desenvolvido com recursos multimodais em um bimestre. São estes os objetivos.  

·         Analisar notícias falsas e perceber os impactos sociais e políticos causados na pandemia pela disseminação da mentira;

·         Desenvolver a postura crítica e combativa à prática de produção e disseminação de fake News, como resistência do desenvolvimento da ciência;

·         Engajar-se em campanhas de conscientização para o combate às fake News, elaborando cartazes digitais com recursos textuais multimodais.

Portanto, a Escola não pode intencionalmente ou não se omitir no esclarecimento de notícias falsas, como se ela fosse um espaço “privilegiado” fora da sociedade, muito menos corroborar com movimentos, sejam eles quais forem, que levem ao desconhecimento muitas vezes com o objetivo de atender aos ideais capitalistas e reacionários. A Escola precisa adotar a pedagogia de multiletramentos com conteúdos midiáticos para ser um lugar de debate e de construção de conhecimentos, assim os estudantes   se tornem cidadãos críticos, conscientes e não acríticos que por falta de orientação se deixem levar por notícias falsas. Para tal propósito é indispensável entender que "O novo paradigma [multiletramentos na escola] não pretende agir como um escudo para proteger os jovens da mídia e conduzi-los para coisas melhores, mas sim torná-los habilitados a tomar decisões mais informadas, para seu próprio interesse." (BUCKINGHAM, 2003, p. 13).

 

 

FONTES:

https://fpabramo.org.br/2022/11/29/a-era-da-pos-verdade/

https://www.scielo.br/j/er/a/6McM9C95x79FDYK3WNpKrZd/?lang=pt

ROJO, R. H. R.; MOURA, E. Multiletramentos na escola. São Paulo: Parábola Editorial, 2012.

https://www.scielo.br/j/rbedu/a/9Bd6mdTWFWQmWYPHZy6hGGg/

https://informe.ensp.fiocruz.br/noticias/48548

quarta-feira, 20 de novembro de 2024

Textos Bíblicos: originais ou cópias


    Uma das grandes escolas de iniciação da savana sudanesa, o Komo, diz que a Palavra (kuma) era um atributo reservado a Deus, que por ela criava as coisas: “o que Maa Ngala (Deus) diz é”.

    No começo, só havia um vazio vivo, vivendo da vida do Ser. Um que se chama a si mesmo Maa Ngala. Então ele criou Fan, o ovo primordial, que nos seus nove compartimentos alojava nove estados fundamentais da existência. Quando esse ovo abriu, as criaturas que daí saíram eram mudas.

    Então para se dar um interlocutor, Maa Ngala tirou uma parcela de cada uma das criaturas, misturou-as e por um sopro de fogo que emanava dele mesmo, constituiu um ser à parte: o homem, ao qual deu uma parte de seu próprio nome, Maa (homem). 

Hampâté Bâ, escrito malinês.

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     No princípio, Deus criou o céu e a terra. A terra, porém, estava informe e vazia, e as trevas cobriam a face do abismo, e o Espírito de Deus movia-se sobre as águas.

    E Deus disse: Exista a luz. E a luz existiu. E Deus viu que a luz era boa; e separou a luz das trevas. E chamou à luz dia, e às trevas noite. E fez-se tarde e manhã, (e foi) o primeiro dia.

Gênesis, I, 1-5

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    É notável a semelhança observada nas duas explicações em sobre a origem do mundo contada por povos distintos. A primeira mais antiga e divulgadas em territórios que o povo abraâmico tiveram contato, e consequentemente, influências diretas e indiretas, antes de registrarem as suas próprias histórias e a sua gênese. 

    A interpretação da Bíblia não deve ser feita isoladamente, mas sim considerando as experiências e contextos reais das pessoas que as escreveram. Precisamos ter consciência que a Bíblia é uma coletênea de livros sagrados escritos por/para um povo. Em Jesus, a Palavra Viva, sacraliza e universaliza os textos sagrados e os tornam acessiveis para todos que creem. 

     A originalidade da Bíblia não está em sua "pureza" textual, como se tivesse sido ditada por Deus. Ela é recheada de realidades e dramas humanos, baseadas na perspectiva de um povo autodenominado eleito e com a concepção de revelação, influenciada pela hermenêutica exodal. Todavia, na Bíblia o primordial é encontrar a Palavra Criadora de Deus, nela um guia de fé, ética e salvação, que transcendem o autoritarismo literário com suas normas prescritas e moralidades meramente humanos. 




Fonte: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/3189923/mod_label/intro/NEGR%C3%83O_EstruturaDaSentenca.pdf


A polêmica dos índios pirahãs: existe mesmo uma gramática universal?

     

A gramática universal das línguas naturais desenvolvida pelo linguista Naom Chomsky é concebida como o conhecimento inato da espécie humana para aquisição da língua materna, ou seja, todas as línguas naturais além de orientadas por princípios comuns e universais, elas estão gravadas no cérebro. Segundo Chomsky, o linguista norte-americano, todos os seres humanos nascem com uma capacidade de obter linguagem. Por essa razão, temos a convicção de uma gramática universal (GU) como algo sedutor, mas inteiramente controverso quando constatamos a força criativa e diversa da linguagem, após os estudos linguísticos de Daniel Everett. 

Em contraposição, temos a teoria do linguista Daniel Everett que defende a existência da língua e o seu funcionamento dentro do contexto da cultura. Para ele, a língua é parte da cultura, que determina grande parte de sua conformação, inclusive a gramatical. Ou seja, para ele a força criativa da linguagem não se encontra nas orações, mas no discurso – a linguagem em ação, a língua utilizada pelo falante. Everett percebe a partir da sua pesquisa, após a convivência próxima com o povo Pirahã e a sua realidade cultural, que a linguagem não é um conjunto de sentenças como afirma a teoria Chomskyana, mas a compreensão da diversidade linguística e da relação entre linguagem e cultura. A linguagem não é inatista, mas um resultado da cultura, uma construção cultural, que atende e é modelada pelas necessidades das comunidades. Por conseguinte, a gramática não poderá ser fixa e universal, mas totalmente flexível e adaptável ao contexto cultural e se torna uma ferramenta social.

Podemos concluir, que enquanto Noam Chomsky, de certa forma arbitrariamente, conclui que a linguagem é inata e universal, Daniel Everett nos desafia a superarmos o conceito de linguagem como uma estrutura profunda e superficial para uma linguagem estruturada e moldada pelo contexto cultural e relativo. Isso implica no fator de que a linguagem é evolução, representando um desafio à visão tradicional da linguística criando novas perspectivas para a compreensão e a empatia da diversidade linguística.

Deixo como contribuição uma entrevista que nos ajuda a conhecermos um pouco mais do Linguista Daniel Everett pelo jornalista Pedro Bial:

Linguista Daniel Everett desafia teoria da gramática universal em livro

Em 2005, Everett ganhou fama ao publicar um artigo que questiona os princípios da teoria da gramática universal de Noam Chomsky, conhecido por muitos como o ”papa da linguística”. A teoria de Chomsky defende que já nascemos com a habilidade de forma inata, como um dom genético.

https://globoplay.globo.com/v/8926068/

 

Fontes:

https://www.blogs.unicamp.br/linguistica/2020/01/10/noam-chomsky-e-o-funcionamento-da-linguagem-menos-e-mais/

https://portal.unicap.br/-/unicap-recebe-linguista-americano-que-desafia-chomsky

https://www.revel.inf.br/files/ce8601463eb68737b653e5ddde2d7421.pdf

A Lingua Brasileira de Sinais/LIBRAS e suas especificidades sociais

 

É de fundamental relevância iniciar o trabalho proposto destacando a importância dos pais ouvintes de filhos surdos superarem o preconceito ou a ilusão de que seus filhos voltarão a ouvir ou se igualarem aos ouvintes e estabelecerem a Língua de Sinais em suas comunicações, logo que identificada a surdez para o desenvolvimento psíquico-social dos mesmos. Os pais como protagonistas da educação de seus filhos necessitam com muita consciência de classe reconhecer a Libras como a língua materna dos surdos e buscar os seus direitos garantidos por lei por uma educação inclusiva, pois a utilização da Língua de Sinais é a principal forma de preservar a identidade das pessoas e das comunidades surdas.

A contribuição familiar e social para a valorização da cultura surda é a utilização consciente da Libras, ou seja, jamais ser inserida como um “plus social” para atender o surdo e muito menos, uma pesudojustificativa de ensinar a língua portuguesa e torna-lo oralizado, mas acima de tudo, para o seu fortalecimento identitário e de sua inclusividade. A Libras deve ser aplicada sem reservas na sociedade para que por meio da linguagem dos surdos aumente a evolução cognitivas e conceituais dos mesmos, fazendo que as suas experiências com a realidade vivida sejam desenvolvidas e o acesso à cultura e o conhecimento os integrem a coletividade.

Língua   Brasileira   de   Sinais/LIBRAS, é   a   língua   de   sinais   reconhecida   por lei Nº   10.436,   24/04/2002)   como   meio   de   comunicação   e expressão   de   comunidades   de   surdos   do   Brasil. Não obstante, a obrigação de ressaltar que a lei obrigada colocar a LIBRAS no grupo das línguas do Brasil. A Linguagem Brasileira de Sinais (LIBRAS) desempenha um papel fundamental na promoção da acessibilidade e comunicação eficaz para a comunidade surda no Brasil. Na obra literária Uma Viagem pelo Mundo dos surdos, o neurologista e escritor Oliver Sacks afirma que:

"Os surdos podem comunicar-se mais facilmente e com maior precisão pela Língua de Sinais, porque o cérebro deles se adapta para esse meio e, se forçados a falar, nunca conseguirão uma linguagem eficiente e serão duplamente deficientes."

É indispensável a promoção da Libras, pois a mesma é   uma   língua   de   um   povo, e   por ser uma língua é viva, autônoma, tem que ser reconhecida pela linguística para ser valorizada e acessível a todos. Só assim, haverá uma comunicação com empatia social e uma sociedade mais justa e inclusiva.

A comunicação dos surdos é gestual-visual e é rica e diversificada, por isso, entre os 5 parâmetros da formação da língua de sinais/LIBRAS – configuração das mãos, ponto de articulação, tipos de movimentos, orientação das mãos e expressão facial – destaco a expressão facial como uma importante mediação para que a linguagem da Libras efetive a comunicação dos surdos, pois é ela também que servirá para a organização e a expressão do pensamento, a construção de conhecimento e a identidade pessoal e cultural. A expressão facial não é um acessório estético, mas um componente fundamental da Língua Brasileira de Sinais (Libras).

A expressão facial desempenha um papel crucial na comunicação eficiente e clara por várias razões:

-  Complemento ao significado:  amplificam os sinais, ajudando a transmitir emoções, intenções e a atitude do emissor;
- Gramática e Sintaxe: o uso do corpo são essenciais para indicar aspectos gramaticais, como a formulação de perguntas, negações e exclamativas;

- Intensidade e Ênfase: uma expressão facial pode modificar o significado de um sinal, indicando, por exemplo, se algo é feito com mais ou menos intensidade, ou se um sentimento é mais forte ou mais leve;

- Contexto e Clarificação: ajudam a esclarecer o contexto de uma mensagem, eliminando ambiguidades que poderiam surgir apenas com o uso dos sinais manuais;

- Engajamento e Relação Interpessoal: facilitam a conexão interpessoal e a empatia, tornando a comunicação mais natural e engajada.

Dois exemplos de Expressão Facial na LIBRAS:
- Interrogação: Levantar as sobrancelhas e inclinar ligeiramente a cabeça;
- Negação: faz um leve movimento de cabeça de lado a lado e faz uma expressão de desaprovação com a boca.

Portanto, a linguagem corporal é parte constitutiva   da comunicação   que precisamos ressaltar em muito porque é ela que proporciona a formação e a informação sobre a identidade, às emoções   as   reações   das   pessoas. Na Língua de Sinais a expressão facial é um fator essencial e de afetividade, pois o   surdo   apreende   o   todo   ao   seu   redor   pela experiência da visão, visto que a surdez unicamente visual (SKLIAR, 2001)

 

Fontes:

https://www.gov.br/planalto/pt-br/acompanhe-o-planalto/noticias/2021/08/educacao-bilingue-de-surdos-se-torna-modalidade-de-ensino-independente

https://www.camara.leg.br/noticias/774138-projeto-classifica-educacao-bilingue-para-surdos-como-modalidade-de-ensino/

https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2021/lei/L14191.htm

SKLIAR, Carlos. A surdez: um olhar sobre as diferenças. 2ª edição. Porto Alegre: Editora Mediação, 2001.

SACKS, Oliver. MOTTA, Laura Teixeira (Trad.). Vendo vozes: uma viagem ao mundo dos surdos. São Paulo: Companhia das Letras. 2010.

https://uva.grupoa.education/sagah/object/default/93230297

 

Ah...! O Tempo!

Um conto do livro  Sonhos de Einstein , obra de ficção de Alan Lightman que explora poeticamente diferentes perspectivas sobre o tempo.   3 ...