sábado, 23 de novembro de 2024

Onde a lei não existe, ao que parece, a razão do mais forte prevalece.

Ao fraco, só resta a esperança de justiça.

O Lobo e o Cordeiro

Estava um Lobo a beber água num riacho, quando avistou um Cordeiro que também bebia da mesma água, um pouco mais abaixo. Mal viu o Cordeiro, o Lobo foi ter com ele de má cara, arreganhando os dentes.

— Como tens a ousadia de turvar a água onde eu estou a beber?

Respondeu o cordeiro humildemente:

— Eu estou a beber mais abaixo, por isso não te posso turvar a água.

— Ainda respondes, insolente! — retorquiu o lobo cada vez mais colérico. — Já há seis meses o teu pai me fez o mesmo.

Respondeu o Cordeiro:

— Nesse tempo, Senhor, ainda eu não era nascido, não tenho culpa.

— Sim, tens — replicou o Lobo —, que estragaste todo o pasto do meu campo.

— Mas isso não pode ser — disse o Cordeiro —, porque ainda não tenho dentes.

O Lobo, sem mais uma palavra, saltou sobre ele e logo o degolou e comeu.

La Fontaine, traduzida pelo poeta Ferreira Gullar (La Fontaine,1999:12-14)


Claramente se mostra nesta Fábula que nenhuma justiça nem razões parecem valer ao inocente para o livrarem das mãos de um inimigo poderoso e desalmado. Os lobos estão por aí... precisamos estar atentos e combatê-los com coragem e resistência. A Festa da Ressurreição haverá! 

Combater a desinformação é uma tarefa premente dos ambientes de escolarização. Nesse sentido, perguntamos: como é possível desenvolver o letramento midiático por meio da prática da análise multissemiótica?

 


A sociedade pós-moderna que estamos inseridos é caracterizada por rápidas mudanças sociais, culturais, artísticas, filosóficas, científicas e estéticas que surgiram após a Segunda Guerra Mundial. Com o fenômeno da globalização temos a possibilidade de acompanhar o mundo nas diversas mídias de qualquer lugar por meio de redes de informação e comunicação, todavia, tal sociedade contemporânea é marcada, por diversos fatores sociais que a tornam complexa. Entre eles destaco, a mistura do real e do imaginário, ou seja, a negação do objetivo em prol do emocionalismo do indivíduo. O avanço e a democratização das tecnologias contribuíram para a ampliação do processo comunicativo, e consequente, a difusão de diferentes tipos de linguagens multimodais, entre outras. Portanto, é essencial e urgente desenvolver as práticas do letramento midiático por meio da análise multissemiótica, de acordo aos gêneros digitais no contexto escolar.

O conceito de pós-verdade na sociedade contemporânea é um neologismo que reproduz a situação na qual, na hora de criar e modelar a opinião pública, os fatos objetivos têm menos influência que os apelos às emoções e às crenças pessoais. Isto é, os indivíduos passam a lerem as notícias falsas com pressa ou com a crença de que quanto mais informação irá daiquiri o conhecimento, a acreditarem e sem buscar a origem das notícias espalham como verdades, e assim, as Fakes News são apregoadas. Para Grijelmo (2017), a era da pós-verdade é preocupante, pois se tornou a era do engano e da mentira, que se propagam com muito mais facilidade, em meio a pessoas que desconfiam de tudo, mas ao mesmo tempo acreditam em qualquer coisa.

A Escola como instituição social que prepara o cidadão para a realidade da vida  tem o dever de promover o combate as desinformações por meio de uma educação que contrarie interesses de poderes manipulativos. Porém, a Escola atual, ainda   mantém   o conceito   de   letramento   tradicional, o   letramento   da   década   de   80/90, quando   a população ainda não tinha acesso à informação a todo instante.  Por isso, precisamos enfrentar   o   desafio   posto   a   educadores   e linguistas: letrar uma nova geração de aprendizes, crianças e adolescentes que estão   crescendo   e   vivenciando   os   avanços   das   tecnologias   da   informação   e comunicação (XAVIER, 2005).

Todos os profissionais da educação, especialmente os docentes em sala de aula, carecem com o compromisso pedagógico elaborar atividades de ensino-aprendizagem de análises multissemióticas e interdisciplinares que estejam inseridas nas demandas desafiadoras da pós-modernidade, no combate às falsas notícias, onde os discentes já são protagonistas da corpo social que vive. Os smartphones, tablets, notebooks, entre ouros aparelhos, são meios tecnológicos que fazem parte do cotidiano de todos, ainda que em meio às desigualdades sociais, assim como a internet é hoje, a principal ferramenta de trabalho, estudo, informação, comunicação e entretenimento da população, para esta finalidade, a ideia não é nova: [é preciso] aproximar os meios de comunicação da educação escolar, é prática tão antiga quanto as próprias mídias (HALLORAN; JONES, 1986).

O desenvolvimento da análise multissemiótica de textos multimodais nas escolas é urgente, porém o trabalho a ser elaborado tem que ser numa perspectiva de atender alguns requisitos importantes: conteúdos, objetivos, faixa etária do público-alvo, problema/resolução, contexto, ambientes, recursos e estratégias de avaliação. Dado isso, a análise, a experimentação e aplicação de conhecimentos interativos e conceituais irão desenvolver o senso crítico, cuja capacidade norteará crianças e jovens construírem relações saudáveis e analisar informações com consciência em busca da verdade dos fatos.

A sociedade na qual  estamos inseridos  se constitui como um grande ambiente multimodal,  no qual  palavras,  imagens, sons, cores, músicas, aromas, movimentos variados, texturas, formas diversas se combinam e estruturam um   grande mosaico multissemiótico
(DIONISIO   eVASCONCELOS, 2013, p. 19). 

No auge da pandemia do coronavírus entre tantas Fakes News espalhadas, muitas desenvolvidas para atender interesses políticos, uma muito disseminada foi que beber água fervida com alho serviria como tratamento preventivo para o coronavírus, desmentida no site Eu Fiscalizo, pela pneumologista e pesquisadora Margareth Dalcolmo, da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, ENSP.

A partir dessa notícia negacionista e falsa, que levou muitos apressados e incultos a fazerem uso dessa prática ineficaz para o combate ao vírus da covid e alcançarem resultados catastróficos, desenvolvi na disciplina de filosofia no Ensino Médio um projeto avaliativo, com os alunos, de combate à desinformação na busca de analisar com senso crítico para obter informações verdadeiras e seguras. Deste modo, a busca para compreender o fenômeno das fake news e suas relações com interesses individuais ou de grupos mobilizados para a manipulação de opinião pública.

O trabalho chamado Quero a verdade, teve 3 objetivos e foi desenvolvido com recursos multimodais em um bimestre. São estes os objetivos.  

·         Analisar notícias falsas e perceber os impactos sociais e políticos causados na pandemia pela disseminação da mentira;

·         Desenvolver a postura crítica e combativa à prática de produção e disseminação de fake News, como resistência do desenvolvimento da ciência;

·         Engajar-se em campanhas de conscientização para o combate às fake News, elaborando cartazes digitais com recursos textuais multimodais.

Portanto, a Escola não pode intencionalmente ou não se omitir no esclarecimento de notícias falsas, como se ela fosse um espaço “privilegiado” fora da sociedade, muito menos corroborar com movimentos, sejam eles quais forem, que levem ao desconhecimento muitas vezes com o objetivo de atender aos ideais capitalistas e reacionários. A Escola precisa adotar a pedagogia de multiletramentos com conteúdos midiáticos para ser um lugar de debate e de construção de conhecimentos, assim os estudantes   se tornem cidadãos críticos, conscientes e não acríticos que por falta de orientação se deixem levar por notícias falsas. Para tal propósito é indispensável entender que "O novo paradigma [multiletramentos na escola] não pretende agir como um escudo para proteger os jovens da mídia e conduzi-los para coisas melhores, mas sim torná-los habilitados a tomar decisões mais informadas, para seu próprio interesse." (BUCKINGHAM, 2003, p. 13).

 

 

FONTES:

https://fpabramo.org.br/2022/11/29/a-era-da-pos-verdade/

https://www.scielo.br/j/er/a/6McM9C95x79FDYK3WNpKrZd/?lang=pt

ROJO, R. H. R.; MOURA, E. Multiletramentos na escola. São Paulo: Parábola Editorial, 2012.

https://www.scielo.br/j/rbedu/a/9Bd6mdTWFWQmWYPHZy6hGGg/

https://informe.ensp.fiocruz.br/noticias/48548

quarta-feira, 20 de novembro de 2024

Textos Bíblicos: originais ou cópias


    Uma das grandes escolas de iniciação da savana sudanesa, o Komo, diz que a Palavra (kuma) era um atributo reservado a Deus, que por ela criava as coisas: “o que Maa Ngala (Deus) diz é”.

    No começo, só havia um vazio vivo, vivendo da vida do Ser. Um que se chama a si mesmo Maa Ngala. Então ele criou Fan, o ovo primordial, que nos seus nove compartimentos alojava nove estados fundamentais da existência. Quando esse ovo abriu, as criaturas que daí saíram eram mudas.

    Então para se dar um interlocutor, Maa Ngala tirou uma parcela de cada uma das criaturas, misturou-as e por um sopro de fogo que emanava dele mesmo, constituiu um ser à parte: o homem, ao qual deu uma parte de seu próprio nome, Maa (homem). 

Hampâté Bâ, escrito malinês.

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     No princípio, Deus criou o céu e a terra. A terra, porém, estava informe e vazia, e as trevas cobriam a face do abismo, e o Espírito de Deus movia-se sobre as águas.

    E Deus disse: Exista a luz. E a luz existiu. E Deus viu que a luz era boa; e separou a luz das trevas. E chamou à luz dia, e às trevas noite. E fez-se tarde e manhã, (e foi) o primeiro dia.

Gênesis, I, 1-5

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    É notável a semelhança observada nas duas explicações em sobre a origem do mundo contada por povos distintos. A primeira mais antiga e divulgadas em territórios que o povo abraâmico tiveram contato, e consequentemente, influências diretas e indiretas, antes de registrarem as suas próprias histórias e a sua gênese. 

    A interpretação da Bíblia não deve ser feita isoladamente, mas sim considerando as experiências e contextos reais das pessoas que as escreveram. Precisamos ter consciência que a Bíblia é uma coletênea de livros sagrados escritos por/para um povo. Em Jesus, a Palavra Viva, sacraliza e universaliza os textos sagrados e os tornam acessiveis para todos que creem. 

     A originalidade da Bíblia não está em sua "pureza" textual, como se tivesse sido ditada por Deus. Ela é recheada de realidades e dramas humanos, baseadas na perspectiva de um povo autodenominado eleito e com a concepção de revelação, influenciada pela hermenêutica exodal. Todavia, na Bíblia o primordial é encontrar a Palavra Criadora de Deus, nela um guia de fé, ética e salvação, que transcendem o autoritarismo literário com suas normas prescritas e moralidades meramente humanos. 




Fonte: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/3189923/mod_label/intro/NEGR%C3%83O_EstruturaDaSentenca.pdf


A polêmica dos índios pirahãs: existe mesmo uma gramática universal?

     

A gramática universal das línguas naturais desenvolvida pelo linguista Naom Chomsky é concebida como o conhecimento inato da espécie humana para aquisição da língua materna, ou seja, todas as línguas naturais além de orientadas por princípios comuns e universais, elas estão gravadas no cérebro. Segundo Chomsky, o linguista norte-americano, todos os seres humanos nascem com uma capacidade de obter linguagem. Por essa razão, temos a convicção de uma gramática universal (GU) como algo sedutor, mas inteiramente controverso quando constatamos a força criativa e diversa da linguagem, após os estudos linguísticos de Daniel Everett. 

Em contraposição, temos a teoria do linguista Daniel Everett que defende a existência da língua e o seu funcionamento dentro do contexto da cultura. Para ele, a língua é parte da cultura, que determina grande parte de sua conformação, inclusive a gramatical. Ou seja, para ele a força criativa da linguagem não se encontra nas orações, mas no discurso – a linguagem em ação, a língua utilizada pelo falante. Everett percebe a partir da sua pesquisa, após a convivência próxima com o povo Pirahã e a sua realidade cultural, que a linguagem não é um conjunto de sentenças como afirma a teoria Chomskyana, mas a compreensão da diversidade linguística e da relação entre linguagem e cultura. A linguagem não é inatista, mas um resultado da cultura, uma construção cultural, que atende e é modelada pelas necessidades das comunidades. Por conseguinte, a gramática não poderá ser fixa e universal, mas totalmente flexível e adaptável ao contexto cultural e se torna uma ferramenta social.

Podemos concluir, que enquanto Noam Chomsky, de certa forma arbitrariamente, conclui que a linguagem é inata e universal, Daniel Everett nos desafia a superarmos o conceito de linguagem como uma estrutura profunda e superficial para uma linguagem estruturada e moldada pelo contexto cultural e relativo. Isso implica no fator de que a linguagem é evolução, representando um desafio à visão tradicional da linguística criando novas perspectivas para a compreensão e a empatia da diversidade linguística.

Deixo como contribuição uma entrevista que nos ajuda a conhecermos um pouco mais do Linguista Daniel Everett pelo jornalista Pedro Bial:

Linguista Daniel Everett desafia teoria da gramática universal em livro

Em 2005, Everett ganhou fama ao publicar um artigo que questiona os princípios da teoria da gramática universal de Noam Chomsky, conhecido por muitos como o ”papa da linguística”. A teoria de Chomsky defende que já nascemos com a habilidade de forma inata, como um dom genético.

https://globoplay.globo.com/v/8926068/

 

Fontes:

https://www.blogs.unicamp.br/linguistica/2020/01/10/noam-chomsky-e-o-funcionamento-da-linguagem-menos-e-mais/

https://portal.unicap.br/-/unicap-recebe-linguista-americano-que-desafia-chomsky

https://www.revel.inf.br/files/ce8601463eb68737b653e5ddde2d7421.pdf

A Lingua Brasileira de Sinais/LIBRAS e suas especificidades sociais

 

É de fundamental relevância iniciar o trabalho proposto destacando a importância dos pais ouvintes de filhos surdos superarem o preconceito ou a ilusão de que seus filhos voltarão a ouvir ou se igualarem aos ouvintes e estabelecerem a Língua de Sinais em suas comunicações, logo que identificada a surdez para o desenvolvimento psíquico-social dos mesmos. Os pais como protagonistas da educação de seus filhos necessitam com muita consciência de classe reconhecer a Libras como a língua materna dos surdos e buscar os seus direitos garantidos por lei por uma educação inclusiva, pois a utilização da Língua de Sinais é a principal forma de preservar a identidade das pessoas e das comunidades surdas.

A contribuição familiar e social para a valorização da cultura surda é a utilização consciente da Libras, ou seja, jamais ser inserida como um “plus social” para atender o surdo e muito menos, uma pesudojustificativa de ensinar a língua portuguesa e torna-lo oralizado, mas acima de tudo, para o seu fortalecimento identitário e de sua inclusividade. A Libras deve ser aplicada sem reservas na sociedade para que por meio da linguagem dos surdos aumente a evolução cognitivas e conceituais dos mesmos, fazendo que as suas experiências com a realidade vivida sejam desenvolvidas e o acesso à cultura e o conhecimento os integrem a coletividade.

Língua   Brasileira   de   Sinais/LIBRAS, é   a   língua   de   sinais   reconhecida   por lei Nº   10.436,   24/04/2002)   como   meio   de   comunicação   e expressão   de   comunidades   de   surdos   do   Brasil. Não obstante, a obrigação de ressaltar que a lei obrigada colocar a LIBRAS no grupo das línguas do Brasil. A Linguagem Brasileira de Sinais (LIBRAS) desempenha um papel fundamental na promoção da acessibilidade e comunicação eficaz para a comunidade surda no Brasil. Na obra literária Uma Viagem pelo Mundo dos surdos, o neurologista e escritor Oliver Sacks afirma que:

"Os surdos podem comunicar-se mais facilmente e com maior precisão pela Língua de Sinais, porque o cérebro deles se adapta para esse meio e, se forçados a falar, nunca conseguirão uma linguagem eficiente e serão duplamente deficientes."

É indispensável a promoção da Libras, pois a mesma é   uma   língua   de   um   povo, e   por ser uma língua é viva, autônoma, tem que ser reconhecida pela linguística para ser valorizada e acessível a todos. Só assim, haverá uma comunicação com empatia social e uma sociedade mais justa e inclusiva.

A comunicação dos surdos é gestual-visual e é rica e diversificada, por isso, entre os 5 parâmetros da formação da língua de sinais/LIBRAS – configuração das mãos, ponto de articulação, tipos de movimentos, orientação das mãos e expressão facial – destaco a expressão facial como uma importante mediação para que a linguagem da Libras efetive a comunicação dos surdos, pois é ela também que servirá para a organização e a expressão do pensamento, a construção de conhecimento e a identidade pessoal e cultural. A expressão facial não é um acessório estético, mas um componente fundamental da Língua Brasileira de Sinais (Libras).

A expressão facial desempenha um papel crucial na comunicação eficiente e clara por várias razões:

-  Complemento ao significado:  amplificam os sinais, ajudando a transmitir emoções, intenções e a atitude do emissor;
- Gramática e Sintaxe: o uso do corpo são essenciais para indicar aspectos gramaticais, como a formulação de perguntas, negações e exclamativas;

- Intensidade e Ênfase: uma expressão facial pode modificar o significado de um sinal, indicando, por exemplo, se algo é feito com mais ou menos intensidade, ou se um sentimento é mais forte ou mais leve;

- Contexto e Clarificação: ajudam a esclarecer o contexto de uma mensagem, eliminando ambiguidades que poderiam surgir apenas com o uso dos sinais manuais;

- Engajamento e Relação Interpessoal: facilitam a conexão interpessoal e a empatia, tornando a comunicação mais natural e engajada.

Dois exemplos de Expressão Facial na LIBRAS:
- Interrogação: Levantar as sobrancelhas e inclinar ligeiramente a cabeça;
- Negação: faz um leve movimento de cabeça de lado a lado e faz uma expressão de desaprovação com a boca.

Portanto, a linguagem corporal é parte constitutiva   da comunicação   que precisamos ressaltar em muito porque é ela que proporciona a formação e a informação sobre a identidade, às emoções   as   reações   das   pessoas. Na Língua de Sinais a expressão facial é um fator essencial e de afetividade, pois o   surdo   apreende   o   todo   ao   seu   redor   pela experiência da visão, visto que a surdez unicamente visual (SKLIAR, 2001)

 

Fontes:

https://www.gov.br/planalto/pt-br/acompanhe-o-planalto/noticias/2021/08/educacao-bilingue-de-surdos-se-torna-modalidade-de-ensino-independente

https://www.camara.leg.br/noticias/774138-projeto-classifica-educacao-bilingue-para-surdos-como-modalidade-de-ensino/

https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2021/lei/L14191.htm

SKLIAR, Carlos. A surdez: um olhar sobre as diferenças. 2ª edição. Porto Alegre: Editora Mediação, 2001.

SACKS, Oliver. MOTTA, Laura Teixeira (Trad.). Vendo vozes: uma viagem ao mundo dos surdos. São Paulo: Companhia das Letras. 2010.

https://uva.grupoa.education/sagah/object/default/93230297

 

sábado, 9 de novembro de 2024

UMA BREVE REFLEXÃO SOBRE A IDENTIFICAÇÃO DA SURDEZ COMO UM CAMINHO DE JUSTIÇA E INCLUSÃO


    É admirável o avanço do processo inclusivo com a regulamentação da lei nº 10.436, a “Lei de Libras” em 22/12/2005. Sua passagem pela história é um marco positivo na luta pela garantia dos direitos humanos de pessoas com surdez em solo brasileiro, mas a inclusão de pessoas surdas em nossa sociedade é por demais complexa e ainda precisa avançar muito em direção à uma educação igualitária e de qualidade, onde sejam contempladas as diferenças com o atendimento das necessidades individuais e significativas de todos.

    Em 2021 o ex-presidente Jair Bolsonaro sancionou a Lei 14.191, que insere a Educação Bilíngue de Surdos na Lei Brasileira de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB - Lei 9.394, de 1996) como uma modalidade de ensino independente — antes incluída como parte da educação especial. Tal sanção da lei é uma evolução significativa para a inclusão da comunidade surda. Vale ressaltar que tal processo inclusivo não pode ser entendido com um “favor”, mas a defesa da dignidade humana.

    A educação bilíngue é uma metodologia de ensino que busca o desenvolvimento de habilidades linguísticas em duas línguas, a língua materna e uma segunda língua, no caso dos surdos, a Libras, mas antes é preciso a sociedade e os nossos representantes políticos compreender que a proposta do bilinguismo para os surdos não é o suprimento de uma necessidade clínica, mas do reconhecimento do aspecto sociocultural e da identidade dos mesmos.

    Já foi comprovado que a Libras quando utilizada como a língua materna, desde a primeira infância, os surdos têm participação em uma educação mais inclusiva e de qualidade, o que torna o seu desenvolvimento cognitivo, social e emocional capaz de tornar um sujeito livre, participativo, construtor e pleno. Os avanços não anulam o abismo a ser superado entre a teoria e a prática cotidiana. Pois vemos como a falta de professores bilíngues qualificados e a necessidade de adaptar os currículos escolares são existentes para atender às necessidades dos surdos.

    Apesar das leis e dos direitos garantidos, é preciso apontar os grandes desafios que urgentemente precisam ser suplantados para que a inclusão aconteça verdadeiramente. A inacessibilidade comunicativa e a falta de políticas públicas de conscientização social que geram atitudes de preconceitos um grande impedimento para a solidificação de uma educação que dê aos excluídos uma vida digna em sociedade, concedendo direitos também à inserção no mercado de trabalho, para que sejam cidadãos capazes, autônomos e atuantes nas suas próprias decisões.

    Endosso listando abaixo alguns pontos, de modo resumido, que sintetiza a atual conjuntura na educação pública brasileira para a comunidade dos surdos que ainda está longe de atender uma Educação Especial e Inclusiva efetivas e de qualidade:

- A falta de interpretes de Libras nas escolas e nos espaços públicos;
- O desconhecimento das libras;
- A falta de tecnologias assistiva;
- Visão capacitista;
- Impunidade para discriminação e estereótipos;
- Falta de conscientização;
- A ausência de participação dos surdos em espaços públicos de decisão.

    Um relato baseado em fatos reais que comprova a distância do cumprimento das leis para o atendimento efetivo da comunidade surda é a do aluno Rafael (usarei nome fictício para preservar a sua identidade). Presente em uma escola privada aqui no Rio de Janeiro, desde a educação infantil e atualmente no 7º ano dos anos finais, a escola sabe que ele, como aluno, ainda não domina completamente a Libras, mas acha que apenas contratar uma intérprete já resolve a questão da inclusão. No entanto, isso não é o suficiente. Um estudante surdo em um ambiente escolar onde todos os colegas e funcionários são ouvintes pode se sentir isolado se a escola não tomar medidas ativas para promovê-lo. É o caso do Gabriel, que estuda na escola há anos, mas até hoje não houve a iniciativa de oferecer aulas de Libras para todas as turmas e funcionários, o que é fundamental para uma verdadeira inclusão.

    A comunidade surda tem lutado para conquistar mais espaços e visibilidade, promovendo a importância da Libras como língua oficial e lutando por políticas de acessibilidade. o problema é que essa língua demorou muito pra ser oficializada e isso acabou atrasando nos dias atais. Não pode nos faltar coragem e rebeldia para superar os preconceitos. A Comunidade surda necessita do cumprimento de ações afirmativas com urgência, por isso, deve ser veloz investir na formação de profissionais em Libras e conscientizar a sociedade a busca dos direitos plenos de acessibilidade e políticas públicas efetivas. Sobretudo, muita empatia para buscar um mundo mais justo e inclusivo para todos.



Fontes:





quinta-feira, 31 de outubro de 2024

Análise semiótica da canção História de uma gata de Chico Buarque

 

    A canção História de uma gata faz parte do musical Os Saltimbancos, com letras de Sergio Bardotti e música de Luís Enríquez Bacalov, com versão em português de Chico Buarque, estreada aqui no Brasil em 1977, em meio a um violento regime de ditadura militar. Tendo em vista, o contexto político e sociocultural brasileiro, o cântico é a tentativa de uma discussão necessária e urgente de temas filosóficos, políticos e culturais.

    A letra apresenta uma crítica profunda da natureza humana, porém com bastante leveza - e até mesmo por causa da proibição da liberdade artística, em vista da resistência e da libertação de um poder opressor em todas as instituições sociais em um país com um ideologia que tentava justificar as censuras, injustiças e violências, como também, com um força motriz de conscientização coletiva na aspiração de produzir a autodescoberta da liberdade individual através da reflexão que rompe com o “conforto” do autoritarismo e frutifica a autoconstrução da identidade com a dinâmica da tentativa da autorrealização.

    Logo de início, é evidente perceber presente na letra o conceito filosófico existencialista – uma corrente europeia do final sec. XIX que ganha notoriedade no sec. XX, onde visa analisar o ser humano a partir de suas experiências subjetivas na busca de concretizar a sua autonomia pessoal, alinhada a abordagem com os problemas de uma sociedade em transformação. A metáfora de cunho existencialista, mostra a liberdade como uma característica fundamental da existência humana - , mas também como uma fonte de angústia, pois implica em responsabilidade pelas nossas escolhas.

    No século XX, em especial, quando a tentativa de se discutir os grandes temas políticos com a arte voltada para a resistência às grandes ideias fascistas e nazistas, o resultado tinha que ser obras com figuras de linguagens que preconizassem a luta, mas de forma inteligente. Os Saltimbancos é a prova disso. Chico Buarque conseguiu, tanto no disco que adaptou de Sergio Bardotti, quanto na peça que veio a partir disso, atingir o ponto certo para que a linguagem lúdica e sensível, fundamental ao diálogo, pudesse ser usada para introduzir questões profundas. Em todas as partes que intermeiam, é possível encontrar essas ideias, que em muitos momentos ecoam a tradição marxista, dando à história um subtexto anticapitalista e revolucionário, ainda que o próprio Chico hoje não siga todas as suas lições.

    A seguir com a minha análise, destaco alguns elementos multisemióticos importantes para compreensão da canção:

Linguagem Verbal:

Metáforas: "filé-mignon", "detefon" e "almofada";

Rimas: trato – gato; lua – rua;

Música:

Melodia: A melodia melancólica e nostálgica reflete a dualidade da gata, que sente falta da vida confortável ao mesmo tempo em que se liberta.
Harmonia: A harmonia simples e direta contribui para a universalidade da mensagem.

Contexto Histórico e Social:

Ditadura Militar: A canção foi composta durante a ditadura militar no Brasil, e a história da gata pode ser vista como uma alegoria à busca por liberdade em um contexto opressor.

Censura: A canção, embora aparentemente infantil, carrega uma mensagem subversiva que poderia ser facilmente interpretada como uma crítica ao regime.

    Enfim, "A História de uma Gata" é uma canção rica em significados, que transcende a história de um animal e se torna uma metáfora para a busca por identidade e liberdade.

    Deixo duas canções, também dos Saltibancos que são abundantes em análise multisemiótica. 

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    A análise semiótica da música "Bicharia" revela uma obra rica em significados, que transcende o universo infantil e se conecta com questões universais como a vida, a morte, a liberdade, a justiça e a diversidade. A linguagem poética e as imagens criadas por Chico Buarque convidam o ouvinte a uma reflexão profunda sobre a condição humana e a sua relação com o mundo natural.

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    "Um Dia de Cão” é uma reflexão sobre a alienação, a rotina opressiva e a falta de autonomia que muitos enfrentam em suas vidas. Chico Buarque, com sua habilidade poética, nos convida a pensar sobre essas questões sociais por meio da figura do cachorro

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    Um relato de Chico Buarque sobre os 40 anos de OS SALTIMBANCOS.

 

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https://www.esquerdadiario.com.br/Os-Saltimbancos-e-como-falar-da-revolucao-para-criancas

https://www.chicobuarque.com.br/obra/cancao/173

Ah...! O Tempo!

Um conto do livro  Sonhos de Einstein , obra de ficção de Alan Lightman que explora poeticamente diferentes perspectivas sobre o tempo.   3 ...